Fernanda Santos

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Acadêmica de Enfermagem (EEAN/UFRJ) Técnico em Enfermagem - Instituto de Pediatria Martagão Gesteira/ UFRJ.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Conversinha sobre bagagens...

Estava conversando com uma pessoa querida, e esta pessoa estava angustiada. Havia sido procurado por um parente que há muito não dava notícias, e este parente disse que precisava se redimir, pois está muito doente e teme morrer sem ter recebido o perdão de todos aos quais ele acredita ter magoado nesta vida.
Bom, primeiramente, acredito que quando uma pessoa tem a consciência de que seu tempo neste mundo é finito, ela percebe a necessidade de carregar apenas aquilo que realmente interessa. Ódio, mágoas, rancor, ao meu ver, são como um peso morto que só atrasa nossa caminhada. Muito bom que uma pessoa consiga ter a percepção de que suas atitudes afetaram aqueles que conviveram com ela. Mesmo que tardia, ela é sempre válida, pois sempre há tempo para escrever um novo capítulo da nossa história...
Mas a angústia do meu interlocutor era sobre o que iria dizer ao seu parente. Ele começou a ensaiar um monólogo onde recordava algumas das situações em que este parente o magoara... bom, eu não me contive, pois, faladeira que sou, interrompi meu querido amigo e disse-lhe que estava errado. Falei da minha opinião sobre o que é perdoar e como acredito que se deve ofertar o perdão...
Perdoar não é esquecer o passado, pois o que passou jamais será apagado. Perdoar, para mim, é deixar de carregar o peso do que passou. Acredito que quando a gente se desobriga de carregar o fardo do rancor, da mágoa, da tristeza, nossa bagagem fica mais leve, abre-se espaço para colocar coisas que realmente velem a pena serem carregadas, como lembranças de um dia feliz, sorrisos, realizações, enfim, e normalmente estas coisas são mais leves, cabem muito mais coisas boas quando deixamos as coisas ruins para trás.
Falei de como fazer isso. Para mim, é algo simples, mas é preciso treino. Quando alguém tem algo a nos dizer, partindo do pressuposto que quem tem algo a dizer é outro e não a gente, nós deixamos esta pessoa se esvaziar primeiro, falando do que sente e sobre o que precisa dizer. A nós cabe apenas ouvir (afinal, quem tinha algo a dizer era o outro, não é?). Depois eu creio que devemos ajudar essa pessoa a começar a se preencher com algo novo... ela já descarregou o peso que trazia consigo, mas espera levar algo em troca... então, aí entra a melhor parte. Damos a ela algo leve, doce, que ela vai ter o maior prazer em carregar... dizemos apenas o que importa, sem remoer mágoas, sem relembrar tristezas: dizemos apenas "obrigado, eu te perdôo, o passado passou, vamos seguir em frente!". Que estas palavras sejam verdadeiras, não há necessidade de pisar em quem já está caído... para quê fazer sofrer uma pessoa que vem até nós para aliviar a alma? No fundo, o grande presente que damos não é para o outro, é para nós mesmos...
Bom, meu querido amigo ficou muito feliz em ouvir minha opinião, senti que ele também estava deixando um peso para trás, o peso de ter que julgar, e que agora a tal conversa com seu parente distante seria muito mais proveitosa. Ganhamos todos, graças a Deus!

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